Carros elétricos: aceitação cresce acima das previsões de especialistas
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22/09/2022
É difícil acreditar que, há cinco anos, os carros elétricos eram considerados uma tecnologia de nicho. Os estereótipos atribuíam aos proprietários o papel de entusiastas, fãs de alta tecnologia ou de ambientalistas mais convictos.
Naquele momento, a linha do tempo de adoção de veículos elétricos era incerta, na melhor das hipóteses.
Avançando rapidamente para 2022, o cenário de mobilidade elétrica mudou drasticamente. Hoje, o mercado para veículos elétricos novos e usados é limitado pela oferta, não pela demanda, mesmo para modelos que não recebem incentivos.
Os carros elétricos usados continuam se valorizando mês após mês, e existem listas de espera de anos para caminhões elétricos.
Agora que uma nova rodada de créditos fiscais de Veículos Elétricos nos EUA foi aprovada em lei, como você imagina que serão os próximos cinco anos?
Neste post, vamos explicar o motivo dos carros elétricos terem tido tanta aceitação, a projeção para os próximos anos e como isso está acontecendo no Brasil. Vamos lá?
Projeção de mercado para carros elétricos
O Boston Consulting Group (BCG) é uma empresa de consultoria global com um sólido conhecimento automotivo. Quase todos os anos, desde 2018, o BCG tem lançado uma projeção de mercado bem desenhada para a adoção do Veículos Elétricos.
Nos poucos anos desde que a primeira projeção foi publicada, os números têm sido continuamente revisados para mostrar o aumento da taxa de adoção.
O BCG publicou este gráfico sobre as projeções de mercado específicas dos EUA nas projeções globais da BCG para Veículos Elétricos. Ele mostra que, ao longo de quatro anos - de 2018 a 2022, as projeções de vendas de Veículos Elétricos nos EUA para 2030 mais do que dobraram, crescendo de uma estimativa de 21% para 53%.
É um cronograma de aceleração impressionante de um dos melhores analistas do mundo. Talvez ainda mais impactante, o último relatório foi divulgado em junho, antes da Inflation Reduction Act e dos recentes compromissos estatais com veículos livres de emissões.
Regras de créditos fiscais afetam a adoção de carros elétricos?
Com a aprovação da Inflation Reduction Act, não só podemos antecipar um aumento nas novas compras de veículos elétricos à medida que os limites máximos de vendas são ampliados, mas haverá também um crescente interesse no mercado de usados.
Embora apenas 17% dos veículos elétricos usados estejam disponíveis a preços que os tornam elegíveis para o crédito fiscal, tirar US$4.000 de um carro de US$20.000 é um desconto de 25%, e pode, de repente, fazer com que a propriedade do veículo elétrico pareça mais tangível.
O novo regulamento também pode exercer pressão para baixo sobre os preços de carros elétricos usados que pairam em torno da marca de US$25.000 e novos em torno de US$55.000.
Há uma preocupação da indústria automotiva de que, no curto prazo, a nova lei aprovada nos EUA possa prejudicar as vendas de veículos elétricos, reduzindo a elegibilidade.
A partir de sua assinatura, em 16 de agosto, 70% dos modelos de veículos elétricos anteriormente elegíveis tornaram-se inelegíveis porque não são produzidos nas montadoras tradicionais dos EUA que se preocupam com mais modelos perdendo elegibilidade do que com os requisitos de "minerais críticos e fornecimento de baterias" que entram em vigor em 1º de janeiro de 2023.
É claro que, o objetivo final de todas essas medidas, é sustentar a produção e fabricação de veículos elétricos e suas peças. As montadoras, que já se voltaram para as operações norte-americanas, como a Volkswagen e outras, serão recompensadas.
Será preciso muito impulso para diminuir o interesse em veículos elétricos: alguns modelos que são inelegíveis para o crédito fiscal federal desde 2019, estão rapidamente se tornando os carros mais vendidos do mundo.
Incentivos aos carros elétricos
Em outros países, o boom dos carros elétricos foi impulsionado por políticas agressivas dos governos locais, que ofereceram benefícios no Imposto de Renda aos compradores.
Na Alemanha, o desconto chegou a € 4 mil; na França, entre € 6 mil e € 8,5 mil; no Reino Unido, £ 3,5 mil. Na China, em torno de US$3 mil.
Uma política idêntica é mais complicada no Brasil, pelos problemas econômicos e fiscais do país. Por isso, o crescimento dos carros elétricos está sendo relativamente mais lento do que o dos outros mercados globais.
Apesar da ausência de um plano nacional claro para adoção desse modo de transporte, há alguns marcos para o setor no país.
Em 2015, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou o Imposto de Importação dos veículos 100% elétricos e reduziu de 35% para entre zero e 7% as alíquotas dos veículos elétricos híbridos.
Em 2018, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentou o mercado de recarga elétrica de veículos no Brasil, a preços livremente negociados.
Também, naquele ano, o então presidente Michel Temer (MDB) sancionou uma lei que instituiu o programa Rota 2030, que adotou uma série de incentivos à eficiência energética dos veículos, beneficiando os carros elétricos, e reduziu as alíquotas de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos veículos elétricos e híbridos, que passaram de uma média em torno de 25% para médias em torno de 9%, 12% e 13%, dependendo do peso e motorização.
Em pelo menos sete estados brasileiros, já há legislação que permite abater ou isentar a cobrança de IPVA para veículos elétricos e híbridos. Em São Paulo, os elétricos não precisam seguir o rodízio.
A infraestrutura necessária para carros elétricos
Mesmo com os incentivos, outra questão importante a se considerar para adoção do carro elétrico é a infraestrutura necessária para a transição de frota.
A instalação de um carregador de veículo elétrico parte de R$2,9 mil, segundo informações da GreenV, empresa focada na instalação de totens de recarga.
Em São Paulo, há cerca de mil pontos de carregamento (nacionalmente, são pouco mais de 1.200).
Apesar do número de estações de recarga, a GreenV acredita que os centros urbanos não devem ser o principal foco para instalação de novos pontos, uma vez que carros elétricos possuem mais de 250 km de autonomia de bateria e podem ser recarregados em uma tomada convencional.
A startup aposta em pontos de recarga em rodovias, cujas viagens são de longa duração. Atualmente, já existem rodovias que contemplam pontos de carregamento ao longo do seu percurso, como é o caso da BR-277 no Paraná, que corta o estado, e a Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
Para que o modelo cresça ainda mais, é necessário que haja uma certa estruturação nas cidades para atenderem a demanda de carregamento.
Para isso, é importante que haja investimento em tecnologia e Parceria Público-Privadas. Além disso, uma forma de acelerar essa transição é o auxílio do governo promovendo incentivos fiscais para que o setor se desenvolva e que os carros elétricos sejam mais baratos e acessíveis à população.
O futuro dos carros elétricos no Brasil
O futuro é promissor, mas não é imediato. Um estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG) e pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que, dependendo do cenário econômico no Brasil nos próximos anos, o número de veículos leves eletrificados pode corresponder a 432 mil unidades em 2030, representando algo em torno de 12% e 22% das vendas, e pode chegar a 1,3 milhões por ano em 2035.
Muitos afirmam que as dimensões continentais do país podem configurar ainda outra dificuldade para adoção do modelo elétrico.
Entretanto, ainda que seja um desafio, isso não é fator de inviabilização, pois pode ser mais facilmente resolvido se a eletromobilidade virar uma agenda nacional, e não apenas das cidades.
A exemplo desse efeito, a dimensão continental não foi empecilho para a rodoviarização do país desde os anos 1950. São mais desafios políticos do que geográficos.
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